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Os abutres também têm personalidade – na vida e na morte


Os movimentos dos abutres-pretos marcados com emissores GPS/GSM revelam padrões individuais muito distintos, que resultam também em histórias de vida muito diversificadas – e alguns finais infelizes. 

 


Os abutres-pretos são animais filopátricos, que quase sempre regressam à sua região natal para se reproduzirem, quando atingem a maturidade sexual. No entanto, durante os primeiros meses, são capazes de percorrer centenas de quilómetros, explorando vastas áreas enquanto aprendem a alimentar-se e a evitar ameaças… Bom, na maioria dos casos. 

Esta espécie demonstra claramente que, em ecologia, a “personalidade” de cada animal tem um enorme peso na sua história natural e na sua sobrevivência. 

No âmbito do projeto LIFE Aegypius Return, foram marcadas 15 crias de abutres-pretos no verão de 2023, outros animais foram marcados após serem recuperados em Centros de Recuperação para a Fauna e antes de serem devolvidos à liberdade, e, ainda, foi marcado o adulto Aravil, capturado com 13 anos de idade. Adicionalmente, antes do arranque deste projeto, outros animais tinham sido marcados nas quatro colónias reprodutoras do país, fornecendo importantes informações sobre a sobrevivência da espécie e os fatores de ameaça e mortalidade que enfrentam. No total, são cerca de 40 os abutres-pretos marcados em Portugal, que a equipa do projeto LIFE Aegypius Return monitoriza diariamente. 

Acompanhar detalhadamente estas aves permite também reconhecer padrões individuais de comportamento que, mesmo numa mesma colónia, podem ser marcadamente distintos… e nem sempre com final feliz. 

Em 2023 nasceram na colónia do Douro Internacional duas crias de abutre-preto, dos três casais nidificantes que compõem atualmente a colónia. Uma das crias foi batizada de Juniperus, como forma de assinalar o zimbro (nome científico Juniperus oxycedrus), árvore sobre a qual os abutres-pretos desta colónia gostam de construir o seu ninho; a outra de Freixo, outra espécie de árvore nativa comum na região.  

Em dezembro de 2023, o Juniperus arriscou um alargado voo ao sul e tem-se aventurado pelo Alentejo, desde então, alternando os pousos entre os distritos de Évora e de Beja, a cerca de 300 km do local onde nasceu. Por outro lado, denotando um ímpeto completamente oposto, o Freixo nunca arriscou voos superiores a cerca de 2 ou 3 km. Altamente fidelizado ao local onde nasceu, nunca se afastou muito das arribas do Douro. E foi a 4 km do seu ninho que acabou por morrer, num dos primeiros voos mais longos que fez.  

O alerta de perigo foi dado pela equipa de monitorização, observando o sinal GPS subitamente imóvel, debaixo de uma rede de linhas elétricas, sobre as arribas. As equipas da Palombar e da SPEA de imediato se deslocaram ao local, iniciando difíceis buscas entre matos e escarpas, e só no dia seguinte conseguiram localizar o Freixo, já morto, e recuperar o emissor. O cadáver foi enviado para necrópsia para o Hospital Veterinário da Universidade de Trás-Os-Montes e Alto Douro, onde se confirmou a causa de morte: colisão, contra as linhas elétricas. O Freixo tinha múltiplas fraturas, resultantes da colisão brusca. Serão agora feitas análises adicionais, para despistar que a colisão se possa ter devido a alguma desorientação causada por doença ou contaminação com chumbo, por exemplo. 


Movimentos do Freixo na última semana de vida, denotando uma forte fidelização à região. 



Local da difícil prospeção para deteção do Freixo. ©Palombar 



Ter um comportamento mais aventureiro não significa necessariamente uma maior preparação, e maior sobrevivência. Das 15 crias marcadas no verão passado, o Freixo foi a segunda que morreu, até agora. Uma das crias nascidas na Serra da Malcata, com a anilha 1U e ainda sem nome, voou muito jovem para Espanha, e logo em setembro acabou por morrer afogada, nas proximidades de Bilbao, a mais de 400 km do ninho. Seguindo o sinal do emissor GPS, acabou por ser encontrada numa ribeira pelos agentes da proteção da natureza da comunidade autónoma de Cantabria. 

A necrópsia foi realizada no Centro de Recuperación de Fauna Silvestre de Cantabria e as amostras foram enviadas para o laboratório de referência da Junta de Andaluzia – o CAD (Centro de Análisis y Diagnóstico de la Fauna Silvestre de Andalucía) para despistar uma eventual presença de venenos ou outros contaminantes.  



Recuperação do cadáver de um abutre-preto muito jovem, nas proximidades de Bilbao pelos Agentes del Medio Natural. ©Gobierno de Cantabria 



Apesar destas mortes serem de lamentar - principalmente ao tratar-se de uma espécie Em Perigo, em que todos os indivíduos têm uma grande importância para a recuperação da espécie – não deixam de refletir diferentes personalidades e adaptações de cada ave, eventualmente com repercussões ao nível da seleção natural. Toda a informação recolhida é preciosa, ainda que nem sempre seja a que gostaríamos de analisar. Conhecer e compreender os padrões de comportamento das aves e as causas de mortalidade das aves permite uma ação preventiva mais eficaz na minimização de ameaças e na conservação da espécie. 

 

 

O projeto LIFE Aegypius Return pretende consolidar o regresso do abutre-preto a Portugal e ao oeste de Espanha. É cofinanciado pelo programa LIFE da União Europeia. O seu sucesso depende do envolvimento de todos os stakeholders relevantes, e da colaboração dos parceiros, a Vulture Conservation Foundation (VCF), beneficiário coordenador, e os parceiros locais Palombar – Conservação da Natureza e do Património Rural, Herdade da Contenda, Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, Liga para a Protecção da Natureza, Associação Transumância e Natureza, Fundación Naturaleza y Hombre, Guarda Nacional Republicana  e Associação Nacional de Proprietários Rurais Gestão Cinegética e Biodiversidade.  

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